Agrotóxicos no Brasil

Antes de mais nada, você sabia que o Brasil é o país que mais consome agrotóxicos do mundo, segundo a FAO/Consultoria Phillips Mcdougall/UNESP/ANDEF? Então veja como os dados são impressionantes:

  • Intoxicação por agrotóxicos mata 1 pessoa a cada 2 dias no Brasil (fonte: rede ambientalista Friends of the Earth Europe);
  • O Brasil consome cerca de 20% de todo o agrotóxico comercializado no planeta (fonte: Larissa Mies Bombardi, Atlas Geográfico do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia);
  • Aqui, consumimos em média 7,5 kg de defensivos agrícolas por habitante a cada ano (fonte: Humans Rights Watch);
  • Há no nosso país, mais de 4600 agrotóxicos liberados para uso no Brasil (fonte: Portal R7 obtidos com base na Lei de Acesso à Informação);
  • O governo Bolsonaro liberou de 2019 para cá, 1.560 deles, dos quais 23,30% são extremamente tóxicos à saúde e 2,52%, ao meio ambiente (fonte: Portal R7 obtidos com base na Lei de Acesso à Informação);
  • O herbicida mais vendido no Brasil (glifosato) é um produto muito questionado por ser controverso e já ter sido proibido em vários outros países do mundo, como na Áustria, por exemplo (fonte: pesquisa das universidades de Princeton, FGV e Insper)

No entanto, infelizmente, são muitas estatísticas negativas que poderíamos listar. Aqui embaixo está um gráfico interativo que compartilhamos do portal R7, que contém dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

 

Agrotóxicos e nosso modelo de produção

Em primeiro lugar, quando olhamos o gráfico acima, vemos que a maior parte destes agrotóxicos vão para as monoculturas. O uso dessas substâncias aqui no Brasil tem relação direta com o modelo de agricultura predominante no país desde a época da colonização, isto é, as monoculturas de exportação de matéria-prima.

“De todos os agrotóxicos vendidos no país, cerca de 80% são usados em plantações de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar”,

diz o relatório da Humans Rights Watch.

Definitivamente, isso tem tudo a ver com o motivo pelo qual o Brasil lidera o consumo mundial de agrotóxicos, uma vez que desde os tempos coloniais, nossa agricultura se baseia na monocultura com foco em exportação de matérias-primas.

Esse modelo produtivo de exportação segue transformando nosso país numa grande fábrica de matéria-prima para outros países, que têm regras ambientais e sociais mais elaboradas! Sabendo que tal modelo vem desde a época colonial, o que mudou foi o poder de destruição sócio-ambiental que vem à reboque deste pacote tecnológico (que ainda por cima, é importado).

Os grandes produtores recebem incentivos do governo, inclusive isenção de impostos na compra de agrotóxicos. Segundo estudo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) realizado por pesquisadores da Fiocruz e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, somente em 2017 houve cerca de R$10 bilhões (quase 4 vezes o orçamento destinado ao Ministério do Meio Ambiente, 2,7 Bi!). Sim, damos isenção de impostos a produtos importados que contaminam a terra, a água, o ar e a todos os seres vivos, em especial os trabalhadores que atuam no campo.

Ainda por cima, temos os danos sociais de concentração de terras, êxodo rural e inchaço das cidades! 

Outra questão complicada é que 21% do custo de uma lavoura é de químicos. Então se o agricultor de commodities pode diminuir esse custo ele vai querer fazer isso! Mas fica preso às sementes e às condições que as próprias empresas criam.

Todo esse sistema aumenta cada vez mais a desigualdade! Privatizamos os lucros e compartilhamos o prejuízo!Para se aprofundar no assunto e entender mais sobre o uso dos agrotóxicos no Brasil e suas consequências, sugerimos a leitura do “Atlas Geográfico do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”, elaborado pela Profa. Larissa Mies Bombardi da Faculdade de Geografia da USP.

Nós precisamos de agrotóxicos?

Agrotóxicos são produtos químicos utilizados na produção agrícola, manutenção de pastagens e proteção de florestas plantadas, como as de eucalipto que mudam a composição da flora e fauna para acabar com as ervas que “competem” com a plantação principal, além de fungos e insetos que podem danificar essa lavoura.

No entanto, acabam por matar também polinizadores, pássaros e parte da biodiversidade local, mudando a naturalidade do ecossistema onde é aplicado, o que cria uma nova população de insetos, bactérias e ervas daninhas que não são necessariamente próprias da região.

Apresenta-se os agrotóxicos como a única solução possível para garantir que a colheita tenha sucesso, embora sua aplicação seja muito negativa do ponto de vista sistêmico, causando desequilíbrios ambientais graves. Ou seja, no fim das contas, causará problemas na saúde humana e ao meio-ambiente.

Porém, esta não é a única forma de se pensar sobre isso. Precisamos mudar o modelo agrícola atual, que não foi desenvolvido para os agricultores, mas pelas multinacionais dos agrotóxicos e para seus interesses particulares. E o caminho é a agroecologia, que ensina trabalhar com a natureza em vez de ir contra ela e interromper esse o método de cultivo intensivo de monocultura em grandes áreas

É preciso alterar o modelo de produção adotando-se práticas agroecológicas cuja produtividade pode ser aumentada não apenas pela utilização de melhoramento genético e utilização de agrotóxicos, mas também por manejo correto do solo, rotação de culturas e culturas que enriqueçam o solo.

Para trabalhar com a natureza ao invés de ir contra ela precisamos mudar nossos padrões de consumo. A produção orgânica consegue sim abastecer o mercado com variedade, mas não com as mesmas plantas. Precisamos entender que não podemos ter uma fruta, legume ou verdura o ano todo, com isso ressaltamos que nós, consumidores finais, somos parte essencial dessa mudança!

Hoje em dia, dentre os problemas de saúde que já se sabe que todos os seres podem enfrentar devido ao uso abusivo de pesticidas estão:

  • alterações cromossômicas;
  • abortos;
  • câncer;
  • doenças respiratórias;
  • até a morte.

Da mesma forma, vale ressaltar que não só os alimentos frescos acabam contaminados. Segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), resíduos de agrotóxicos podem estar presentes inclusive em alimentos ultraprocessados, como biscoitos e pães, cereais matinais ou até uma pizza! O INCA afirma que nem a água escapa ilesa.

Além disso, estudos mostram que em todo Brasil há altos índices de contaminação da água potável como consequência dos agrotóxicos usados na região.

Clique aqui para verificar através de dados do Ministério da Saúde se sua cidade tem a água contaminada!

Em suma, não é verdade que este é o único modelo possível! Primordialmente, esta narrativa interessa apenas a quem hoje se beneficia deste modelo predador. É preciso questionar estas “verdades” e  incentivar outros modelos que privilegiam e geram vida no lugar de exterminá-la. 

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